A dificuldade de dar eco às pautas de espaços distantes dos grandes conglomerados de comunicação foi apontada pelos participantes da mesa ‘Pés no chão e mídias na mão: próximos passos na construção da comunicação popular no Panará’.
Diretor do Sindicato dos Jornalistas do Paraná, em Cascavel, Julio Carignano apontou a dificuldade de levar o debate da Comunicação Popular para as cidades distantes dos eixos da capital. “No interior do Estado é onde se potencializa aquela lógica do coronelismo midiático”, aponta.
Segundo ele, é comum a propagação de discursos tendenciosos, preconceituosos e mentirosos por parte dos veículos de comunicação comandados pelas mesmas famílias. Também é comum a constante criminalização de movimentos sociais e indígenas da região.
“Alguns exemplos são engraçados, mas é catastrófico porque tem gente que acredita nesse tipo de discurso”, avalia.
Para Ednubia Ghisi, também integrante do Sindijor e jornalista do Centro de Formação Urbana Rural Irmã Araújo (Ceguria), a falta de visibilidade das pautas de cidades mais distantes de Curitiba reflete também o que acontece no cenário nacional: a cobertura midiática acaba sendo concentrada nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro, onde se encontra a sede dos grupos de comunicação de maior alcance no país.
“Além disso, o que a gente sabe sobre as lutas da América Latina, se a gente for comparar com o que a gente sabe dos Estados Unidos e da Europa?”, questiona a jornalista, destacando a necessidade de uma comunicação que discutida aspectos das diversas regiões do globo terrestre.
Por isso, Ednubia indica que fazer Comunicação Popular é uma forma de democratizar a mídia, que significa também romper com o monopólio. “Os grande conglomerados de Comunicação interferem diretamente na nossa luta”, avalia.
Construção coletiva
A jornalista Ednubia Ghisi também indicou a necessidade de estar refletindo e aperfeiçoando constantemente a forma de produzir comunicação popular. Para ela, um dos grandes desafios é alinhar essa forma de produzir informação com a educação popular. “Precisamos multiplicar esse debate”, destaca.
Para a jornalista Joana Tavares, que integra o Quem Luta Educa, é a partir do movimento organizado que se dá as conquistas de direitos e demandas sociais. Segundo ela, é necessário que diferentes categorias compreendam que a pauta de um movimento pode ser também abraçada por outro. É preciso unir diferentes grupos no debate da Comunicação Popular. “Nosso desafio é a articular para levantar nossa voz em pautas concretas”, aponta.
Segundo avaliação de participantes e organizadores do evento, percebe-se um movimento no sentido de ampliar, construir e fortalecer redes de debate da comunicação. Para a integrante da Frente Paranaense de Liberdade de Expressão, Ana Paula Salamon, a realização do evento é um indicativo disso. Para ser realizado, sindicatos e movimentos apoiaram de forma efetiva de diversas maneiras. “Isso é exemplo danado de como o discurso vem sendo interiorizado por esses grupos. Nesse sentido cenário é positivo”, avalia.
Outra participante também destacou a importância de iniciativas como a proposta no Curso de Comunicação Popular do Paraná. Segundo ela, o encontro foi muito estimulante, e deve servir de base para ampliação dos debates nas diferentes cidades e regiões do estado e do país. “Nossa cabeça está fervilhando de ideias”, conta.
Para ajudar na necessidade de constante aprendizado nesse campo, ficou indicado o desejo de formação de um grupo de estudos sobre Comunicação Popular. Caso esse grupo de concretize, os participantes do Curso devem receber em seus e-mails convite para as atividades.
Carta em repúdio à criminalização a acampamentos rurais no Paraná
Ao final do encontro, foi produzida a Carta do 3º Curso de Comunicação Popular do Paraná em repúdio à criminalização a acampamentos rurais no Paraná, que denuncia com a forma com que veículos de comunicação retratam movimentos sociais no estado. Exemplo disso é a constante criminalização do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), na cobertura midiática que está sendo realizada para os constantes ataques e conflitos nos acampamentos Dom Tomás Balduíno e Herdeiros da Terra 1º de Maio.
“Desde a ocupação da área, os meios de comunicação da região frequentemente criminalizam o Movimento Sem Terra, a Araupel como empresa multinacional usa também de cooptação, buscando comprar os meios de comunicação da região para diariamente criminalizar as ocupações na região”, indica a carta.
>> Leia a carta completa aqui.
Pés no chão, mídias na mão!